domingo, 28 de março de 2021

O último pajé

Cheio de angústia e de rancor, calado,
Solene e só, a fronte carrancuda,
Morre o velho Pajé, crucificado
Na sua dor, tragicamente muda.
Vê-se-lhe aos pés, disperso e profanado,
O troféu dos avós: a flecha aguda,
O terrível tacape ensanguentado,
Que outrora erguia aquela mão sanhuda.
Vencida a sua raça tão valente,
Errante, perseguida cruelmente,
Ao estertor das matas derrubadas!
‘Tupã mentiu!’ e erguendo as mãos sagradas,
Dobra o joelho e a calva sobranceira
Para beijar a terra brasileira.


*Péthion de Villar
*
(pseudônimo de Egas Moniz Barreto de Aragão)
Em “POESIA COMPLETA – A morte do pajé”, Brasília, MEC (Conselho Federal de Cultura),
Edição comemorativa do cinqüentenário de seu falecimento, 1978.

Nenhum comentário: