“O Deus do silêncio
Não sei por quê; porque dizer não ouso:
Seguindo estância e estância o antigo rito,
No templo de Ísis, adorava o Egito
O deus sem voz, o deus misterioso.
Milhões de olhos de um vago olhar aflito
Cobrem-lhe o corpo; e em lânguido repouso,
Guardando um gesto altivo e desdenhoso,
Poisava à boca um dedo de granito.
E como um olho só, tudo isso olhava
Do fundo de uma orelha, que o envolvia:
E aos seus pés vendo a turba imbele e escrava,
O mudo olhar inquieto ardia em lava...
Porém... quanto mais via, e mais ouvia,
Menos falava o deus que não falava...”
*Luís Delfino dos Santos*
Em “Poesia Completa, org. de Lauro Junkes”, Florianópolis,
Academia Catarinense de Letras (ACL), 2º v., 2001.
domingo, 7 de março de 2021
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