sexta-feira, 12 de março de 2021

 “DIÁLOGO INTERIOR

Ante o infinito,
Cismo e medito.

Mas vou pensando
E interrogando.

Dialogo a esmo
Comigo mesmo.

– Tudo convida
A amar a vida.

– E a amar se deve
A um bem tão breve?

– A vida é bela
No que revela...

– Mas como existe
O homem tão triste?

– A vida é a luta
Divina e bruta.

– Onde o heroísmo?
Páramo ou abismo?

– A vida encerra
Os bens da terra.

– Se esses dons temos,
Por que sofremos?

– A vida inquieta
É a mais completa.

– Mas por que a alma
Aspira à calma?

– A vida é intensa
Para quem pensa.

– E onde a esperança,
Que não descansa?

– A vida é pura
Quando há ventura.

– E por que sinto
A ânsia do instinto?

– A vida é chama,
Que apura e inflama.

– Por que a resumo
Em névoa e fumo?

– A vida é a glória
Sempre ilusória.

– Mas como é insano
O sonho humano?

– A eterna esfinge
Ninguém atinge...

– Que reticências
Nas existências!


*Antônio Francisco da Costa e Silva*
Em “Poesias Completas Nova Edição Revista e Ampliada (Sangue, Zodíaco, Verhaeren, Pandora,
Verônica e Alhambra)
”, Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira, 4ª Edição, 2000.

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