sábado, 17 de fevereiro de 2018

XII

Tudo tão vago

‘Nossa senhora
Na beira do rio
Lavando os paninhos
Do bento filhinho…

São João estendia,
São José enxugava
e a criança chorava
do frio que fazia

Dorme criança
dorme meu amor
que a faca que corta
dá talho sem dor’

                                     (de uma cantiga de ninar)

Tudo tão vago... Sei que havia um rio...
Um choro aflito... Alguém cantou, no entanto...
E ao monótono embalo do acalanto
O choro pouco a pouco se extinguiu...

O Menino dormira... Mas o canto
Natural como as águas prosseguiu...
E ia purificando como um rio
Meu coração que enegrecera tanto...

E era a voz que eu ouvi em pequenino...
E era Maria, junto à correnteza,
Lavando as roupas de Jesus Menino...

Eras tu... que ao me ver neste abandono,
Daí do Céu cantavas com certeza
Para embalar inda uma vez meu sono!...


*Mario Quintana*
Em “A Rua dos Cataventos”, Porto Alegre, Editora Globo, 1ª Edição, 2005.

Nenhum comentário: