domingo, 25 de fevereiro de 2018

Sensual

Quando, longe de ti, solitária, medito
neste afeto pagão que envergonhada oculto,
vem-me às narinas, logo, o perfume esquisito
que o teu corpo desprende e há no teu próprio vulto.

A febril confissão deste afeto infinito
há muito que, medrosa, em meus lábios sepulto,
pois teu lascivo olhar em mim pregado, fito,
à minha castidade é como um  insulto.

Se acaso te achas longe, a colossal barreira
dos protestos que, outros, eu fizera a mim mesma
de orgulhosa virtude, erige-se altaneira.

Mas, se estás ao meu lado, a barreira desaba,
e sinto da volúpia a ascosa e fria lesma
minha carne poluir com repugnante baba...


*Gilka Machado*
Em “Poesias Completas, Gilka Machado”, Rio de Janeiro,
Editora Cátedra-Brasília/INL, 1ª Edição, 1978.

Nenhum comentário: