“Névoas
Nas horas tardias que a noite desmaia,
Que rolam na praia mil vagas azuis,
E a lua cercada de pálida chama
Nos mares derrama seu pranto de luz,
Eu vi entre os flocos de névoas imensas,
Que em grutas extensas se elevam no ar,
− Um corpo de lada, − serena dormindo,
Tranqüila sorrindo num brando sonhar.
Na forma de neve − puríssima e nua −
Um raio de lua de manso batia,
E assim reclinada no túrbido leito
Seu pálido peito de amores tremia.
Oh! filha das névoas! das veigas viçosas,
Das verdes − cheirosas roseiras do céu,
Acaso rolaste tão bela dormindo,
E dormes sorrindo, das nuvens no véu?
O orvalho das noites congela-te a fronte,
As orlas do monte se escondem nas brumas;
E queda repousas num mar de neblina,
Qual pérola fina no leito de espumas!
Nas suas espáduas, dos astros dormentes,
− Tão frio − não sentes o pranto filtrar?
E as asas de prata do gênio das noites,
Em tíbios açoites a trança agitar?
Ai! vem que nas nuvens te mata o desejo
De um férvido beijo gozares em vão!..
Os astros − sem alma − se cansam de olhar-te,
Não podem amar-te, nem dizem paixão!
E as auras passavam − e as névoas tremiam, −
e os gênios corriam − no espaço a cantar,
Mas ela dormia tão pura e divina
Qual pálida ondina nas águas do mar!
Imagem formosa, das nuvens da Ilíria
− Brilhante Valquíria − das brumas do norte,
Não ouves ao menos do barão os clamores,
Envolta em vapores, − mais fria que a morte!
Oh! vem! vem, minh’alma! teu rosto gelado,
Teu seio molhado de orvalho brilhante,
Eu quero aquecê-los no peito incendido,
− Contar-te ao ouvido paixão delirante!..
Assim eu clamava tristonho e pendido,
Ouvindo o gemido da onda na praia,
Na hora em que fogem as névoas sombrias,
− Nas horas tardias que a noite desmaia.
− E as brisas d’aurora ligeiras corriam,
No leito batiam da fada divina;
Sumiram-se as brumas do vento à bafagem
E a pálida imagem desfez-se em − neblina!”
*Fagundes Varela*
Em “Poesias Completas de Fagundes Varela (Vozes da América, Noturnas, Pendão Auriverde, Cantos Religiosos, Avulsas, Cantos e Fantasias, Cantos Meridionais, Canto do Ermo e da Cidade, Etc.)”,
Nas horas tardias que a noite desmaia,
Que rolam na praia mil vagas azuis,
E a lua cercada de pálida chama
Nos mares derrama seu pranto de luz,
Eu vi entre os flocos de névoas imensas,
Que em grutas extensas se elevam no ar,
− Um corpo de lada, − serena dormindo,
Tranqüila sorrindo num brando sonhar.
Na forma de neve − puríssima e nua −
Um raio de lua de manso batia,
E assim reclinada no túrbido leito
Seu pálido peito de amores tremia.
Oh! filha das névoas! das veigas viçosas,
Das verdes − cheirosas roseiras do céu,
Acaso rolaste tão bela dormindo,
E dormes sorrindo, das nuvens no véu?
O orvalho das noites congela-te a fronte,
As orlas do monte se escondem nas brumas;
E queda repousas num mar de neblina,
Qual pérola fina no leito de espumas!
Nas suas espáduas, dos astros dormentes,
− Tão frio − não sentes o pranto filtrar?
E as asas de prata do gênio das noites,
Em tíbios açoites a trança agitar?
Ai! vem que nas nuvens te mata o desejo
De um férvido beijo gozares em vão!..
Os astros − sem alma − se cansam de olhar-te,
Não podem amar-te, nem dizem paixão!
E as auras passavam − e as névoas tremiam, −
e os gênios corriam − no espaço a cantar,
Mas ela dormia tão pura e divina
Qual pálida ondina nas águas do mar!
Imagem formosa, das nuvens da Ilíria
− Brilhante Valquíria − das brumas do norte,
Não ouves ao menos do barão os clamores,
Envolta em vapores, − mais fria que a morte!
Oh! vem! vem, minh’alma! teu rosto gelado,
Teu seio molhado de orvalho brilhante,
Eu quero aquecê-los no peito incendido,
− Contar-te ao ouvido paixão delirante!..
Assim eu clamava tristonho e pendido,
Ouvindo o gemido da onda na praia,
Na hora em que fogem as névoas sombrias,
− Nas horas tardias que a noite desmaia.
− E as brisas d’aurora ligeiras corriam,
No leito batiam da fada divina;
Sumiram-se as brumas do vento à bafagem
E a pálida imagem desfez-se em − neblina!”
*Fagundes Varela*
Em “Poesias Completas de Fagundes Varela (Vozes da América, Noturnas, Pendão Auriverde, Cantos Religiosos, Avulsas, Cantos e Fantasias, Cantos Meridionais, Canto do Ermo e da Cidade, Etc.)”,
Rio de Janeiro, Editora Edições de Ouro, 1ª Edição, 1965.
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