segunda-feira, 19 de abril de 2021

Soneto da soledade, ou da soidade

Eu passava na vida errante e vago
Como o nauta perdido em noite escura,
Mas tu te ergueste peregrina e pura
Como o cisne inspirado em manso lago.

Beijava a onda num soluço mago
Das moles plumas a brilhante alvura,
E a voz ungida de eternal doçura
Roçava as nuvens em divino afago.

Vi-te, e nas chamas de fervor profundo
A teus pés afoguei a mocidade,
Esquecido de mim, de Deus, do mundo!

Mas ai! cedo fugiste!... da soidade,
Hoje te imploro desse amor tão fundo,
Uma idéia, uma queixa, uma saudade!


*Fagundes Varela*
Em “Poesias Completas de Fagundes Varela (Vozes da América, Noturnas, Pendão Auriverde,
Cantos Religiosos, Avulsas, Cantos e Fantasias, Cantos Meridionais, Canto do Ermo e da Cidade, Etc.)
”,
Rio de Janeiro, Edições de Ouro, 1ª Edição, 1965.

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