sexta-feira, 2 de abril de 2021

Leinha, querida,

[…] 

Me lembro bem da carta que eu lhe escrevi, sobre deixar os outros em paz. Realmente o tom geral devia estar pessimista.
O pessimismo passou, mas o bom propósito não: farei o possível para não amar demais as pessoas, sobretudo por causa das pessoas.
Às vezes o amor que se dá pesa, quase como responsabilidade na pessoa que o recebe. Eu tenho essa tendência geral para exagerar,
e resolvi tentar não exigir dos outros senão o mínimo. É uma forma de paz… Também é bom porque em geral se pode ajudar muito mais
as pessoas quando não se está cega pelo amor.


[…]

*Clarice Lispector*
(Fragmento da carta escrita à sua irmã – Berna, 19 outubro 1948)
Em “Minhas Queridas”, Org. e introd. Teresa Montero,
Rio de Janeiro, Editora Rocco Ltda., 1ª Edição, 2007.
(reunião de cartas escritas, entre 1940 e 1957, para as suas irmãs,
Elisa e Tania, no período em que a escritora viveu fora do Brasil)

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