sábado, 24 de abril de 2021

 “Poema de Circunstância
 
Onde estão os meus verdes?
Os meus azuis?
O arranha-céu comeu!
E ainda falam nos mastodontes, nos brotossauros, nos tiranossauros,
Que mais sei eu…
Os verdadeiros monstros, os papões, são eles, os arranha-céus!
Daqui

Do fundo
Das suas goelas,
Só vemos o céu, estreitamente, através de suas
Empinadas gargantas ressecas.
Para que lhes serviu beberem tanta luz?
De fronte
À janela aonde trabalho…
Há uma grande árvore…
Mas já estão gestando um monstro de permeio!
Sim, uma grande árvore muito verde…
Ah, todos os meus olhares são de adeus
Como o último olhar de um condenado!


*Mário Quintana*
Em “Antologia Poética”, Rio de Janeiro, Editora Alfaguara, 1ª Edição, 2015.

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