sábado, 24 de abril de 2021

 “Ilha

Não sei por que tanto mar em minha vida.
Ele que fala sempre em despedida,
que canta distância e solidão.
Por vezes parece até que ele vaza,
derruba minha porta,
invade minha casa,
ocupa minha cama,
lava meu chão.

Ele é que faz do leva-e-traz de cada onda
o mensageiro dos afetos separados
e que conserva segredos bem guardados
lá no horizonte, onde a terra se arredonda.

São tantos anos de tamanha intimidade,
que carrego a forte sensação
de que o mar alterou-me a identidade:
metade água, metade coração.


*Flora Figueiredo*
Em “Chão de Vento – Poesia”, São Paulo, Geração Editorial, 1ª Edição, 2005.

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