“Vergonha
Se tu me olhas, eu me torno formosa
como a erva a quem desceu o orvalho,
e desconhecerão minha face gloriosa
as altas canas quando baixe o rio.
Tenho vergonha de minha boca triste,
de minha voz rota, de meus joelhos rudes;
agora que me olhaste e que vieste,
me percebi pobre e me toquei desnuda.
Nenhuma pedra no caminho achaste
mais despida de luz na alvorada
que esta mulher a quem levantaste,
porque ouviste seu canto, o olhar.
Eu me calarei para que não conheçam
minha ventura os que passam pelo campo,
no fulgor que há em minha face tosca
e no tremor que há em minha mão...
É noite e desce à erva o orvalho;
olha-me fundo e fala-me com ternura,
que de manhã, ao descer ao rio
a que beijaste levará formosura!”
*Gabriela Mistral*
Em "Gabriela Mistral - ANTOLOGIA POÉTICA (Seleção, tradução e apresentação de
Fernando Pinto do Amaral)", Lisboa, Editorial Teorema, 2002.
Se tu me olhas, eu me torno formosa
como a erva a quem desceu o orvalho,
e desconhecerão minha face gloriosa
as altas canas quando baixe o rio.
Tenho vergonha de minha boca triste,
de minha voz rota, de meus joelhos rudes;
agora que me olhaste e que vieste,
me percebi pobre e me toquei desnuda.
Nenhuma pedra no caminho achaste
mais despida de luz na alvorada
que esta mulher a quem levantaste,
porque ouviste seu canto, o olhar.
Eu me calarei para que não conheçam
minha ventura os que passam pelo campo,
no fulgor que há em minha face tosca
e no tremor que há em minha mão...
É noite e desce à erva o orvalho;
olha-me fundo e fala-me com ternura,
que de manhã, ao descer ao rio
a que beijaste levará formosura!”
*Gabriela Mistral*
Em "Gabriela Mistral - ANTOLOGIA POÉTICA (Seleção, tradução e apresentação de
Fernando Pinto do Amaral)", Lisboa, Editorial Teorema, 2002.
2 comentários:
Compartilho...
No fundo do teu ser quem trazes prisioneiro?
No fundo do teu ser quem trazes prisioneiro,
sedento de mais luz? Quem vela? Quem dominas?
Quem anseia a claridade
num soluçar desfeito?
Os seus olhos não veem,
embora a luz acenda
o céu a cada aurora.
Quem vela, encarcerado,
no fundo do teu ser?
O cântico da vida
encanta o ar, em torno...
E lutas, no silêncio...
As aves, na floresta,
cantam o novo dia
e as flores o triunfo
da vida renovada.
-Se a luz do céu triunfa
porque há noite em teus olhos?
- A noite foi-se embora. Contudo,
no teu cárcere estreito,
arde ainda, na sombra,
a lâmpada noturna.
-Porque andam tão ausentes
a tua casa e o mundo?
Quem trazes prisioneiro
no fundo de ti mesmo?
Rabindranath Tagore
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Eu sou vários...
Eu sou vários. Há multidões em mim.
Na mesa da minha alma sentam-se muitos,
e eu sou todos eles.
Há um velho, uma criança, um sábio, um tolo.
E nunca saberás com quem estás sentado ou quanto
tempo permanecerás com cada um de mim.
Mas prometo que, se nos sentarmos à mesa,
nesse ritual sagrado eu entregar-te-ei ao menos
um dos tantos que sou, e correrei os riscos de
estarmos juntos no mesmo plano.
Desde logo, evita ilusões:
também tenho um lado mau, ruim, que tento
manter preso e que quando se solta me envergonha.
Não sou santo, nem exemplo, infelizmente.
Entre tantos, um dia descubro-me,
um dia serei eu mesmo, definitivamente.
Como já foi dito: ousa conquistar-te a ti mesmo.
Friedrich Nietzsche
Deixo-lhe meu mais terno abraço.
BIluminado,
Uma boa e molhada noite para você!
Abraços chuvosos...
P.S.: Deus meu!... Sem palavras para dizer sobre os poemas partilhados...
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