sábado, 8 de junho de 2013

Os lírios

Certa madrugada fria
irei de cabelos soltos
ver como crescem os lírios.

Quero saber como crescem
simples e belos – perfeitos! –
ao abandono dos campos.

Antes que o sol apareça,
neblina rompe neblina
com vestes brancas, irei.

Irei no maior sigilo
para que ninguém perceba
contendo a respiração.

Sobre a terra muito fria
dobrando meus frios joelhos
farei perguntas à terra.

Depois de ouvir-lhe o segredo
deitada por entre lírios
adormecerei tranqüila.


*Henriqueta Lisboa*

Em “A face lívida”, Belo Horizonte, Edição da Imprensa Oficial, 1945.

2 comentários:

Brilho disse...

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Pequena Flor

Como pequena flor que recebeu uma chuva enorme
e se esforça por sustentar o oscilante cristal das gotas
na seda frágil e preservar o perfume que ai dorme,

e vê passarem as leves borboletas livremente,
e ouve cantarem os passares acordados nesta angústia,
e o sol claro do dia as claras estátuas beijando sente.

e espera que se desprenda o excessivo úmido orvalho
pousado, trêmulo, e sabe que talvez o vento
a libertasse, porém a desprenderia do galho,

e nesse tremor e esperança aguarda o mistério transida
assim repleto de acasos e todo coberto de lágrimas
há um coração nas lânguidas tardes que envolvem a vida.

Cecília Meireles
in: "Vaga Música"

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Canção da Alheia Primavera

Talvez se agite um braço me chamando:
mas tão longe, nem move
as névoas dessa ausência.

Quando achei que era tempo, não era:
quando apanhei a estrela, passava
um vaga-lume qualquer entre meus dedos.

Talvez desça um navio me procurando
mas não quero viagens: sou
um pálido coral numa água morna,
e vagamente aflora um movimento
-mas pode ser a sombra do meu sono.

Talvez haja um amor me inventando,
mas tão vago, nem roça
as beiras da minha praia: concha breve
e encolhida, não vou desenrolar
o meu abraço.

Quando achei que era tempo, não era:
talvez este ondular entre meus ramos
venha de alguma alheia primavera.

Lya Luft
in: "Secreta Mirada"


"Ando de um lado para outro, dentro de mim."
Clarice Lispector

Fraterno abraço!

Elaine Bastos disse...

Perfeitas!... Belas, belíssimas!
O que falar, além das redundâncias
de costume?!
Fraternurentos abr'eijos.