“Os lírios
Certa madrugada fria
irei de cabelos soltos
ver como crescem os lírios.
Quero saber como crescem
simples e belos – perfeitos! –
ao abandono dos campos.
Antes que o sol apareça,
neblina rompe neblina
com vestes brancas, irei.
Irei no maior sigilo
para que ninguém perceba
contendo a respiração.
Sobre a terra muito fria
dobrando meus frios joelhos
farei perguntas à terra.
Depois de ouvir-lhe o segredo
deitada por entre lírios
adormecerei tranqüila.”
*Henriqueta Lisboa*
Em “A face lívida”, Belo Horizonte, Edição da Imprensa Oficial, 1945.
Certa madrugada fria
irei de cabelos soltos
ver como crescem os lírios.
Quero saber como crescem
simples e belos – perfeitos! –
ao abandono dos campos.
Antes que o sol apareça,
neblina rompe neblina
com vestes brancas, irei.
Irei no maior sigilo
para que ninguém perceba
contendo a respiração.
Sobre a terra muito fria
dobrando meus frios joelhos
farei perguntas à terra.
Depois de ouvir-lhe o segredo
deitada por entre lírios
adormecerei tranqüila.”
*Henriqueta Lisboa*
Em “A face lívida”, Belo Horizonte, Edição da Imprensa Oficial, 1945.
2 comentários:
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Pequena Flor
Como pequena flor que recebeu uma chuva enorme
e se esforça por sustentar o oscilante cristal das gotas
na seda frágil e preservar o perfume que ai dorme,
e vê passarem as leves borboletas livremente,
e ouve cantarem os passares acordados nesta angústia,
e o sol claro do dia as claras estátuas beijando sente.
e espera que se desprenda o excessivo úmido orvalho
pousado, trêmulo, e sabe que talvez o vento
a libertasse, porém a desprenderia do galho,
e nesse tremor e esperança aguarda o mistério transida
assim repleto de acasos e todo coberto de lágrimas
há um coração nas lânguidas tardes que envolvem a vida.
Cecília Meireles
in: "Vaga Música"
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Canção da Alheia Primavera
Talvez se agite um braço me chamando:
mas tão longe, nem move
as névoas dessa ausência.
Quando achei que era tempo, não era:
quando apanhei a estrela, passava
um vaga-lume qualquer entre meus dedos.
Talvez desça um navio me procurando
mas não quero viagens: sou
um pálido coral numa água morna,
e vagamente aflora um movimento
-mas pode ser a sombra do meu sono.
Talvez haja um amor me inventando,
mas tão vago, nem roça
as beiras da minha praia: concha breve
e encolhida, não vou desenrolar
o meu abraço.
Quando achei que era tempo, não era:
talvez este ondular entre meus ramos
venha de alguma alheia primavera.
Lya Luft
in: "Secreta Mirada"
"Ando de um lado para outro, dentro de mim."
Clarice Lispector
Fraterno abraço!
Perfeitas!... Belas, belíssimas!
O que falar, além das redundâncias
de costume?!
Fraternurentos abr'eijos.
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