segunda-feira, 3 de junho de 2013

A Chuva Lenta        

Esta água medrosa e triste,
como criança que padece,
antes de tocar a terra,
 desfalece.

Quieta a árvore, quieto o vento,
e no silêncio estupendo,
este fino pranto amargo,
caindo!

O céu é como um imenso
coração que se abre, amargo.
Não chove: é um sangrar lento
e longo.

Dentro de casa, os homens
não sentem esta amargura,
este envio de água triste
   da altura;

Este longo e fatigante
descer de águas vencidas,
até  a Terra jacente
  e transida.

Chove... e como um chacal trágico
a noite espreita na serra.
Que vai surgir na sombra
  da Terra?

Dormireis, enquanto fora
cai, sofrendo, esta água inerte
esta água  letal, irmã
  da Morte?

            
*Gabriela Mistral*

Em "GABRIELA MISTRAL & CECÍLIA MEIRELES", Rio de Janeiro,
 Academia Brasileira de Letras  e Academia Chilena de La Lengua/Santiago de Chile, 2003.

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