domingo, 2 de junho de 2013

Silêncio

No fadário que é meu, neste penar,
Noite alta, noite escura, noite morta,
Sou o vento que geme e quer entrar,
Sou o vento que vai bater-te à porta...

Vivo longe de ti, mas que me importa?
Se eu já não vivo em mim! Ando a vaguear
Em roda à tua casa, a procurar
Beber-te a voz, apaixonada, absorta!

Estou junto de ti, e não me vês...
Quantas vezes no livro que tu lês
Meu olhar se pousou e se perdeu!

Trago-te como um filho nos meus braços!
E na tua casa... Escuta!...  Uns leves passos...
Silêncio, meu Amor!...  Abre! Sou eu!...

       
*Florbela Espanca*

Em “Poemas de Florbela Espanca”, São Paulo, Editora Martins Fontes, 4ª Edição, 2005.

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