domingo, 18 de julho de 2021

Simplesmente Homem
 
Talvez, por admirar a beleza do luar, o fascínio das estrêlas
e ficar horas a fio olhando o azul do céu, fosse o último dos boêmios.
Talvez, por ser alegre como os pássaros, puro como a água das chuvas,
inconseqüente como o vento que alterna o sopro nas folhas, também
fosse o último dos artistas.
Talvez, por acariciar as flores, conversar com os animais e decifrar os
enigmas das formas da natureza, pudesse ser o último dos loucos.
Talvez, por tentar sempre uma palavra de conforto, um apoio
desinteressado e uma chama de esperança, fosse o último dos irmãos.
Talvez, por teimar constantemente em não se render aos interesses
mesquinhos, aos jogos de cartas marcadas, às tentações limitadas
das ambições pessoais imediatas, pudesse ser o último dos rebeldes.
Talvez, por ser fiel aos seus princípios, ao respeito mútuo, aos direitos
universais, porque não, talvez fosse o último dos escravos.
Talvez, por ser ingênuo como o olhar dos loucos, terno como o sopro do
orvalho, meigo como um beijo de mãe, inocente como o assum-preto
que canta para aqueles que lhe furaram os olhos, fosse a última das
crianças.
Talvez, por acreditar na própria vida e sonhar acordado, por entregar
sem medo de perder, por gostar sem nunca cobrar, fosse o último dos
românticos.
Talvez, por rezar sem definir credos e acreditar no bem sem obedecer a deuses tiranos,
ver limpidamente o futuro que todos estão comprometidos em liquidar, fosse o último dos profetas.
Talvez, por acreditar nos outros, por enxergar além do limite físico da
visão, por dar a vida às coisas mortas, fosse o último dos poetas.
Talvez, por insistir em perseguir um mesmo objetivo pacientemente, vê-lo constantemente adiado
justamente por aquelas pessoas que mais gosta e novamente começar tudo, com a mesma esperança
de quem tivesse conseguido uma vitória, fosse o último dos apaixonados.
Talvez, tivesse sido quase tudo; quando, o que ele quis toda a vida, foi
simplesmente ser um homem.
”   

*Autor Desconhecido*
Publicado no jornal “A VANGUARDA Nº 1.895”, do Município de Cássia/MG, em 05 de agosto de 1984.

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