domingo, 4 de julho de 2021

Anhanguera

‘... e no terceiro dia da criação o Criador
dividiu as águas, fez os mares e os rios e separou a terra e deu ela ervas e plantas.’
... e quando das águas separadas aflorou Goyaz, há milênios, ficou ali a Serra
Dourada em teorias imprevistas de lava endurecida, e a equação de equilíbrio da
pedra oscilante.
Vieram as chuvas
e o calor acamou o limo na camarinha das grotas.
O vento passou
trazendo na custódia das sementes o pólen fecundante.
Nasceu a árvore.
E o Criador vendo que era boa multiplicou a espécie em sombra para as feras
em fronde para os ninhos e em frutos para os homens.
Só depois de muitas eras foi que chegaram os poetas.  
Evém a Bandeira dos Polistas...
num tropel soturno de muitos pés de muitas patas.
Deflorando a terra.
Rasgando as lavras nos socavões.
Esfarelando cascalho, ensacando ouro,
encadeiam Vila Boa nos morros vestidos de pau-d’arco.
Foi quando a perdida gente no sertão impérvio.
Riscou o roteiro incerto do velho Bandeirante e Bartolomeu Bueno, bruxo feiticeiro,
num passe de magia histórica
tirou Goyaz de um prato de aguardente
e ficou sendo o Anhanguera.


*Cora Coralina*
(pseudônimo de Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas)
Em “MEU LIVRO DE CORDEL”, São Paulo, Global Editora, 11ª Edição, 2009.

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