domingo, 4 de julho de 2021

 “Cantiga

Quando passarem os dias
E não mais se avistar
Nosso rosto, e o sereno
Modo nosso de olhar,

E a nossa evaporada
Voz não viver mais no ar,
E as sombras esquecerem
A que era a do nosso andar,

Vai ser doce pensar-se
− em que secreto lugar? −
nos sonhos que inventamos
ternos e devagar

no perfil que tivemos,
tão fino e singular,
e no louro e nas rosas
que o poderiam coroar,

e nos vergéis que sentíamos,
quando íamos a par,
ouvindo o amor que nunca
chegou a sussurrar...


*Cecília Meireles*
(em homenagem a Mario Quintana – enviado ao autor em 1944)
Em “Mario Quintana – Da preguiça como método de Trabalho”, Editora Globo, 3ª Edição, 1987, pág. 122.

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