segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

 Quarta-feira de cinzas

Toda a terra está envolta nas neblinas
e a friagem se difunde pelo espaço…
– longe se ouve, em cadência, passo a passo
o caminhar dos boêmios nas esquinas…

Pela sombra – as estrelas pequeninas
com sono, tem o olhar nevoento e baço…
No silêncio da noite ouço o compasso
do sereno a pingar das serpentinas…

Algum bando tardio passa adiante
– e deixa pela noite uma batida
de samba em agonia – estrebuchante…

Quarta-feira de cinzas já amanhece,
– mais outro carnaval em minha vida,
vida que há muito um carnaval parece!…

 
*J. G. de Araújo Jorge*
Em “Meu Céu Interior”, Rio de Janeiro, Editora Vecchi, 8ª Edição, 1967.

Nenhum comentário: