domingo, 22 de outubro de 2017

Há 150 anos...

A única crítica é a gargalhada

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A única crítica é a gargalhada! Porque enfim, nós bem o sabemos: a gargalhada nem é um raciocínio, nem uma idéia, nem um sentimento, nem uma crítica; nem é o desdém, nem a indignação; nem julga, nem repele, nem pensa; não cria nada, destrói tudo, não responde por coisa alguma! E no entanto é o único inventário do mundo político em Portugal. Um Governo decreta? gargalhada. Fala? gargalhada. Reprime? gargalhada. Cai? gargalhada. E sempre a política, aqui, ou pensando, ou criando, ou liberal ou opressiva, terá em redor dela, sobre ela, envolvendo-a, como a palpitação de asas de uma ave monstruosa, sempre, perpetuamente, vibrante, cruel, implacável – a gargalhada! 
 
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o governo exorbita? Oh que pilhéria! É terrível, tirânico? Santo Deus, que estamos a rir!

Oh política querida, sê o que quiseres, toma todas as atitudes, pensa, educa, ensina, discute, oprime, – nós riremos. A tua atmosfera é de chalaça!


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*José Maria Eça de Queiroz*
Excerto do artigo “Uma Campanha Alegre”.
Em “As Farpas – Crônica mensal da política, das letras e dos costumes (Eça de Queiroz, Ramalho Ortigão), As Farpas originais de Eça Queiroz, Coordenação de Maria Filomena Mónica”, Principia - Publicações Universitárias e Científicas, Cascais/Portugal, 3ª Edição, 2004.

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