domingo, 1 de outubro de 2017

SONETO VIII (Lágrimas de Amor: Rubi e Prata)

Corrente, que do peito desatada
Sois por dois belos olhos despedida;
E por carmim correndo despedida
Deixais o ser, levais a cor mudada.

Não sei, quando cais precipitada,
Às flores, que regais, tão parecida,
Se sois neves por rosa derretida,
Ou se a rosa por neve desfolhada.

Essa enchente gentil de prata fina,
Que de rubi por conchas se dilata,
Faz troca tão diversa, e peregrina,

Que no objeto, que mostra, ou que retrata,
Mesclando a cor purpúrea à cristalina,
Não sei, quando é rubi, ou quando é prata.


*Gregório de Matos Guerra*
Em “Obra poética”, Rio de Janeiro, Editora Record, 2ª Edição, 1990.
– Obras de Gregório de Matos, Rio de Janeiro, Publicações da Academia Brasileira de Letras, 1923-1933, 
6 Volumes (Sacra, I, 1929; Lírica, II, 1923; Graciosa, III, 1930; Satírica, IV e V, 1930; Última, VI, 1933).

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