domingo, 1 de outubro de 2017

Anoitecer

                                          A Adelino Fontoura

Esbraseia o Ocidente na agonia
O sol... Aves em bandos destacados,
Por céus de ouro e de púrpura raiados,
Fogem... Fecha-se a pálpebra do dia...

Delineiam-se, além, da serrania
Os vértices de chama aureolados,
E em tudo, em torno, esbatem derramados
Uns tons suaves de melancolia.

Um mundo de vapores no ar flutua...
Como uma informe nódoa, avulta e cresce
A sombra à proporção que a luz recua...

A natureza apática esmaece...
Pouco a pouco, entre as árvores, a lua
Surge trêmula, trêmula... Anoitece.


*Raimundo Correia*
Em “Poesias completas de Raimundo Correia”, Volume 1, São Paulo, 
Companhia Editora Nacional, 1948, pág. 120.

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