domingo, 15 de outubro de 2017

O vento e eu

O vento morria de tédio
porque apenas gostava de cantar
mas não tinha letra alguma para a sua própria voz,
cada vez mais vazia...

Tentei então compor-lhe uma canção
tão comprida como a minha vida
e com aventuras espantosas que eu inventava de súbito,
como aquela em que menino eu fui roubado pelos ciganos
e fiquei vagando sem pátria, sem família, sem nada neste vasto mundo...
Mas o vento, por isso,
me julga agora como ele...
E me dedica um amor solidário, profundo!


*Mario Quintana*
Em “VELÓRIO SEM DEFUNTO”, Rio Grande do Sul, Editora Globo, 1ª Edição, 2009.

Nenhum comentário: