domingo, 22 de maio de 2016

Riso amargo

Num desafio temerário e forte,
Eu quero rir da vida, altivamente,
Da vida que é combate, luta ingente,
Nesta comédia dum viver sem norte.

Quero rir da desgraça e da má-sorte
Que nos fere e persegue tenazmente.
Rir do que é baixo e vil, amargamente,
Do que é soluço e dor… E até da morte!

De tudo rir! Que mais posso fazer?...
Se a podridão de charco jamais volta
À limpidez das fontes a correr…

Quero rir!... E o meu riso é um esgar,
Um grito de impotência e de revolta!
Rir! Quero rir!

…E apenas sei chorar!


*Florbela Espanca*
Em “Poemas Inéditos Os Últimos Poemas de Florbela Espanca”, 
Lisboa, Edições Nova Acrópole, 1ª Edição, 2014.

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