domingo, 13 de março de 2016

Crepuscular

Há no ambiente um murmúrio de queixume,
De desejos de amor, d’ais comprimidos...
Uma ternura esparsa de balidos
Sente-se esmorecer como um perfume.

As madressilvas murcham nos silvados
E o aroma que exalam pelo espaço
Tem delíquios de gozo e de cansaço,
Nervosos, femininos, delicados.

Sentem-se espasmos, agonias d’ave.
Inapreensíveis, mínimas, serenas...
− Tenho entre as mãos as tuas mãos pequenas,
O meu olhar no teu olhar suave.

As tuas mãos tão brancas d’anemia...
Os teus olhos tão meigos de tristeza...
− É este enlanguescer da natureza,
Este vago sofrer do fim do dia.
”         

*Camilo Pessanha*
Em “CLEPSIDRA”, São Paulo, Editora Ateliê Editorial, 1ª Edição, 2009.

Nenhum comentário: