domingo, 21 de janeiro de 2018

Soneto

Aceitarás o amor como eu o encaro?…
…Azul bem leve, um nimbo, suavemente
Guarda-te a imagem, como um anteparo
Contra estes móveis de banal presente.

Tudo o que há de melhor e de mais raro
Vive em teu corpo nu de adolescente,
A perna assim jogada e o braço, o claro
Olhar preso no meu, perdidamente.

Não exijas mais nada. Não desejo
Também mais nada, só te olhar, enquanto
A realidade é simples, e isto apenas.

Que grandeza… a evasão total do pejo
Que nasce das imperfeições. O encanto
Que nasce das adorações serenas.


*Mário de Andrade*
Em “MÁRIO DE ANDRADE - Poesias Completas (Volumes 1 e 2)”, 

Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira, 1ª Edição, 2015.

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