domingo, 28 de janeiro de 2018

Realização da vida

Não me peças que cante,
pois ando longe,
pois ando agora
muito esquecida.
   
Vou mirando no bosque
o arroio claro
e a provisória
flor escondida.

E procuro minha alma
e o corpo, mesmo,
e a voz outrora
em mim sentida.

E me vejo somente
pequena sombra
sem tempo e nome,
nisto perdida,

– nisto que se buscara
pelas estrelas,
com febre e lágrimas,
e que era a vida.


*Cecília Meireles*
Em “Mar absoluto e outros poemas”, Porto Alegre, Global Editora, 2ª Edição, 2015.

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