sábado, 16 de fevereiro de 2013

Quando olho para mim não me percebo 

Quando olho para mim não me percebo.
Tenho tanto a mania de sentir
Que me extravio às vezes ao sair
Das próprias sensações que eu recebo.

O ar que respiro, este licor que bebo
Pertencem ao meu modo de existir,
E eu nunca sei como hei-de concluir
As sensações que a meu pesar concebo.

Nem nunca, propriamente, reparei
Se na verdade sinto o que sinto. Eu
Serei tal qual pareço em mim? serei

Tal qual me julgo verdadeiramente?
Mesmo ante as sensações sou um pouco ateu,
Nem sei bem se sou eu quem em mim sente.
”   

*Álvaro de Campos (heterônimo de Fernando Pessoa)*
Em “Poesias de Álvaro de Campos, Fernando Pessoa”, Lisboa, Editora Ática, 1944.

2 comentários:

Brilho disse...

Estimada Elaine...

Belíssimos poemas.

Fraterno abraço!


"Há uma solidão no céu,
uma solidão no mar
e uma solidão na morte.
Mas fazem todas companhia
comparadas a este local profundo,
esta polar intimidade,
uma Alma que reconhece a Si mesma:
finita infinidade."


Emily Elizabeth Dickinson
Tradução: Paulo Mendes Campos

Elaine Bastos disse...

Grata, gratíssima por sua atenção, amizade e carinho, amiga...
Fraternurentos abraços, também!

P.S.: Lembrei-me de você...