"A Flor e a Fonte
'Deixa-me, fonte!' Dizia
A flor, tonta de terror.
E a fonte, sonora e fria
Cantava, levando a flor.
'Deixa-me, deixa-me, fonte!'
Dizia a flor a chorar:
'Eu fui nascida no monte...
Não me leves para o mar.'
E a fonte, rápida e fria,
Com um sussurro zombador,
Por sobre a areia corria,
Corria levando a flor.
'Ai, balanços do meu galho,
Balanços do berço meu;
Ai, claras gotas de orvalho
Caídas do azul do céu!...'
Chorava a flor, e gemia,
Branca, branca de terror.
E a fonte, sonora e fria,
Rolava, levando a flor.
'Adeus, sombra das ramadas,
Cantigas do rouxinol;
Ai, festa das madrugadas,
Doçuras do pôr-do-sol;
Carícias das brisas leves
Que abrem rasgões de luar...
Fonte, fonte, não me leves,
Não me leves para o mar!'
*
As correntezas da vida
E os restos do meu amor
Resvalam numa descida
Como a da fonte e da flor..."
*Vicente de Carvalho*
Em “Vicente de Carvalho e os Poemas e Canções”, São Paulo, Livraria José Olympio Editora, 1970.
'Deixa-me, fonte!' Dizia
A flor, tonta de terror.
E a fonte, sonora e fria
Cantava, levando a flor.
'Deixa-me, deixa-me, fonte!'
Dizia a flor a chorar:
'Eu fui nascida no monte...
Não me leves para o mar.'
E a fonte, rápida e fria,
Com um sussurro zombador,
Por sobre a areia corria,
Corria levando a flor.
'Ai, balanços do meu galho,
Balanços do berço meu;
Ai, claras gotas de orvalho
Caídas do azul do céu!...'
Chorava a flor, e gemia,
Branca, branca de terror.
E a fonte, sonora e fria,
Rolava, levando a flor.
'Adeus, sombra das ramadas,
Cantigas do rouxinol;
Ai, festa das madrugadas,
Doçuras do pôr-do-sol;
Carícias das brisas leves
Que abrem rasgões de luar...
Fonte, fonte, não me leves,
Não me leves para o mar!'
*
As correntezas da vida
E os restos do meu amor
Resvalam numa descida
Como a da fonte e da flor..."
*Vicente de Carvalho*
Em “Vicente de Carvalho e os Poemas e Canções”, São Paulo, Livraria José Olympio Editora, 1970.
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