domingo, 24 de fevereiro de 2013

Sugestão

Sede assim — qualquer coisa
serena, isenta, fiel.

Flor que se cumpre,
sem pergunta.

Onda que se esforça,
por exercício desinteressado.

Lua que envolve igualmente
os noivos abraçados
e os soldados já frios.

Também como este ar da noite:
sussurrante de silêncios,
cheio de nascimentos e pétalas.

Igual à pedra detida,
sustentando seu demorado destino.
E à nuvem, leve e bela,
vivendo de nunca chegar a ser.

À cigarra, queimando-se em música,
ao camelo que mastiga sua longa solidão,
ao pássaro que procura o fim do mundo,
ao boi que vai com inocência para a morte.

Sede assim qualquer coisa
serena, isenta, fiel.

Não como o resto dos homens.

*Cecília Meireles*
Em “Poesias Completas de Cecília Meireles, Viagem, Vaga Música”, Rio de Janeiro, 
Editora Civilização Brasileira - MEC, 1973.

3 comentários:

Brilho disse...

Estimada Elaine...

Dê antemão, peço-lhe mil desculpas por ocupar o
espaço compartilhando este poema,
que em especial, muito me toca a alma.
Creias, apenas estou a ocupá-lo,
por não ter outra opção de envio.
Prometo-lhe ser o último.

Deixo-te meu encantamento
pelas preciosidades que tens postado.

Meu sempre, terno abraço!



Soneto de Homenagem

Se há nesta vida um Deus para os acasos,
Que pela humanidade o bem reparte
Que te dê da fortuna a melhor parte
Que venturas te dê, sem lei nem prazos.

Eu, de alegrias tenho os olhos rasos
de lágrimas, querida, ao vir brindar-te
Quando vejo que até para saudar-te,
As flores se debruçam sobre os vasos.

O meu brinde é sumário, curto e breve
Se o nome que se quer, quando se escreve
Move-se a pena com traços ideais.

Um anjo como tu, quando se brinda
Tem-se a missão cumprida e a festa finda
Quebra-se a taça e não se bebe mais.

Antero Tarquínio de Quental

Brilho disse...

Elaine...

Volto a falar-te, agora para sanar uma dúvida a respeito
do poema "soneto de homenagem". Circula pela
internet (google), com o título "Brinde de Honra"
atribuído a Maurício Moreira. Contudo, pesquisando em
diversas páginas, o encontrei com o título
"Soneto de homenagem" como sendo de
"Antero Tarquíneo de Quental".
Até o momento conhecia como sendo dele.
Talvez com os teus conhecimentos literários,
possas a minha dúvida esclarecer.
Receba este comentário apenas como uma observação,
não sendo necessário publicá-lo.

Desde já meus sinceros agradecimentos.

Terno abraço!

Elaine Bastos disse...

Estimada BIluminado!

É raro encontrarmos fidelidade nas citações poéticas ou literárias existentes na web…

E, também, é com tristeza que constatamos que as citações não têm suas autorias preservadas...

Não sou uma conhecedora dos diversos movimentos literários brasileiro (Literatura de Informação, Barroco, Arcadismo, Romantismo – 1ª, 2ª e 3ª geração de escritores – Realismo, Naturalismo, Parnasianismo, Simbolismo, Pré-modernismo e Modernismo – 1ª, 2ª e 3ª fases) e movimentos literários português (Humanismo, Classicismo, Barroco, Arcadismo, Romantismo, Realismo, Naturalismo, Simbolismo e Modernismo – 1ª e 2ª fases).

Como são vastíssimas as duas literaturas, não é mesmo?!...

A literatura lusitana é riquíssima e merece ser bem estudada e não tive tempo para me dedicar a ela. Sei apenas o que estudei nos idos de meu ensino médio...

A exemplo dos mestres portugueses, Gil Vicente, Camões, Pe. Antônio Vieira, Bocage, Camilo Castelo Branco, António Feliciano de Castilho, Antero de Quental se destacou na luso-literatura e contribuiu para a implantação das idéias renovadoras da denominada “Geração 1870” junto à Eça de Queirós, Oliveira Martins, Guerra Junqueiro, Ramalho Ortigão...

Antero de Quental foi um homem que viveu bem à frente do seu tempo e expressou em seus sonetos a sua inquietação religiosa e metafísica...

É considerado, ao lado de Bocage e Camões, os grandes sonetistas da literatura portuguesa.

Suas obras mais importantes, "Sonetos de Antero" (1861), "Primaveras Românticas"(1872), "Sonetos Completos" (1886) e "Raios de Extinta Luz" (1892).

Observa-se na bela e grandiosa lírica Anteriana uma apurada forma de escrita... Pesquisei muito antes de lhe responder, e, assim como você, encontro-me em dúvidas se o poema é dele, realmente... Muitos afirmam que sim...

Prometo-lhe que continuarei a pesquisar sobre o tema... Tão logo encontre resposta, falarei para você.

O “Soneto de Homenagem” também me emocionou! Fico imensamente feliz quando você enriquece o meu cantinho ao enviar os poemas que gosta. Espero que não seja o último!

Grata, grata, gratíssima!

Deixo-lhe o meu abraço fraternurento junto aos meus votos para que tenha uma noite abençoada!