terça-feira, 15 de dezembro de 2020

Pedras

Os morros cantam para meus sentidos
a música dos vegetais
que se movem ao vento.
 
As pedras imóveis me enviam
uma bênção ancestral.
Debaixo da minha janela
se estende a pedra-mãe.
 
Que mãos calejadas
e imensas mãos sofridas de escravos
a teriam posto ali,
para sempre?
 
Pedras sagradas da minha cidade,
nossa íntima comunicação.
Lavada pelas chuvas,
queimada pelo sol,
bela laje velhíssima e morena.
 
Eu a desejaria sobre meu túmulo
e no silêncio da morte,
você, uma pedra viva, e eu,
teríamos uma fala
do começo das eras.

*Cora Coralina*
Em “VILLA BOA DE GOYAZ”, São Paulo, Global Editora, 1ª Edição, 2001.

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