“Natal
Penso em Natal. No teu Natal. Para a bondade
A minh’alma se volta. Uma grande saudade
Cresce em todo o meu ser magoado pela ausência.
Tudo é saudade… A voz dos sinos… A cadência
Do rio… E esta saudade é boa como um sonho!
E esta saudade é um sonho… Evoco-te… Componho
O ambiente cuja luz os teus cabelos douram.
Figuro os olhos teus, tristes como eles foram
No momento final de nossa despedida…
O teu busto pendeu como um lírio sem vida,
E tu sonhas, na paz divina do Natal…
Ó minha amiga, aceita a carícia filial
De minh’alma a teus pés humilhada de rastos.
Seca o pranto feliz sobre os meus olhos castos…
Ampara a minha fronte, e que a minha ternura
Se torne insexual, mais do que humana, – pura
Como aquela fervente e benfazeja luz
Que Madalena viu nos olhos de Jesus…”
*Manuel Bandeira*
Em “A cinza das horas”, São Paulo, Global Editora, 3ª Edição, 1993.
quarta-feira, 23 de dezembro de 2020
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