domingo, 19 de agosto de 2018

Noturno do Amor

Vem de manso... de leve... e suave e doce
Como um silêncio estático de prece...
Que a sua vida seja tal qual fosse
Apenas a saudade que me viesse...

Vem de manso... Na névoa da penumbra,
Faze um gesto litúrgico de bênção!
A alta noite tristíssima deslumbra
Dos meus olhos nostálgicos, que pensam...

Sugere, mas não fales... Porque a frase
É vã, no amor... Mistério... Sonolência...
O esquecimento, quase... A morte, quase...
Intuições... Irrealismo... Inconsciência...

......................................................................

Morre a noite, a um luar triste de romance...
Vem de leve!... E, ao palor da noite extinta,
que seja só meu sonho que te alcance...
Minha alma, unicamente, que te sinta...

*Cecília Meireles*
Em “Mar absoluto e outros poemas”, Porto Alegre, Global Editora, 2ª Edição, 2015.

Nenhum comentário: