domingo, 25 de outubro de 2015

Dai-me, Senhor, um coração de criança!

O olhar

[...]
 
Obrigado, Senhor, por meus olhos, janelas abertas para o alto mar.
Obrigado pelo olhar que transporta minha alma como o raio
generoso conduz a luz e o calor de Teu sol.
Dentro da noite rezo a Ti para que amanhã quando eu abrir
os olhos à luz da manhã clara,
Estejam prontos para servir à minha alma e ao seu Deus.

Faze que sejam claros meus olhos, Senhor,
E que meu olhar, bem reto, desperte uma fome de pureza.
Faze que não seja nunca um olhar desiludido, desabusado,
desesperado. Mas saiba admirar, extasiar-se, contemplar.
Dá-me aos olhos a graça de saberem fechar-se para melhor
Te encontrar, mas que nunca se afastem do Mundo por medo.
Dá-me ao olhar a graça de ser bastante profundo
para reconhecer Tua presença no Mundo.
E faze que jamais meus olhos se fechem à miséria dos homens.
Que meu olhar, Senhor, seja limpo e firme, Mas saiba enternecer-se,
E que meus olhos sejam capazes de chorar.

Faze que meu olhar não suje o que tocar,
Não perturbe, mas serene, não entristeça, mas semeie a Alegria,
Não seduza para guardar cativo,
Mas convide e arraste à superação de si mesmo.
Faze-o desconcertar o pecador, que reconheça através dele a
Tua Luz seja, porém, censura, só para encorajar.
Faze que meu olhar transtorne, por ser um encontro, o encontro de Deus.

Para que meu olhar seja tudo isto, Senhor,
Uma vez mais, esta noite, eu Te dou a minha alma,
Eu Te dou o meu corpo, eu Te dou os meus olhos,
Para que ao olhar os homens, meus irmãos,
Sejas Tu quem os olhe e de dentro de mim lhes acene.


*Michel Quoist*
Em “Poemas para Rezar”, São Paulo, Editora Livraria Duas Cidades, 23ª Edição, 1969.

Nenhum comentário: