quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Pequena flor

Como pequena flor que recebeu uma chuva enorme
E se esforça por sustentar o oscilante cristal das gotas
Na seda frágil, e preservar o perfume que aí dorme,

E vê passarem as leves borboletas livremente,
E ouve cantarem os pássaros acordados sem angústia,
E o sol claro do dia às claras estátuas beijando sente,

E espera que se desprenda o excessivo, úmido orvalho
Pousado, trêmulo, e sabe que talvez o vento
A libertasse, porém a desprenderia do galho,

E nesse temor e esperança aguarda o mistério transida
ᅳ Assim repleto de acasos e todo coberto de lágrimas
Há um coração nas lânguidas tardes que envolvem a vida.


*Cecília Meireles*

Em “Poesias Completas de Cecília Meireles, Viagem, Vaga Música”, Rio de Janeiro, 
Editora Civilização Brasileira - MEC, 1973.

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