sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Eu quero

Eu quero à doce luz, os vespertinos pálidos
Lançar-me, apaixonado, entre as sombras das matas
ᅳ Berços feitos de flor e de carvalhos cálidos
Onde a Poesia dorme, aos cantos da cascatas…

Eu quero aí viver ᅳ o meu viver funéreo,
Eu quero aí chorar ᅳ os tristes prantos meus…
E envolto o coração, nas sombras do mistério,
Sentir minh’alma erguer-se entre a floresta de Deus!

Eu quero aí unir a voz de meus martírios
C’os trenos, que murmura a brisa nos palmares
ᅳ As lágrimas guardar, no seio azul dos lírios,
E os soluços no seio dos trêm’los nenúfares…

Eu quero, da ingazeira erguida aos galhos úmidos,
Ouvir os cantos virgens ᅳ da agreste patativa…
Da natureza eu quero nos grandes seios túmidos,
Beber a Calma, o Bem e a Crença ᅳ ardente, altiva.

Eu quero, eu quero ouvir o esbravejar das águas
Das ásp’ras cachoeiras que irrompem do sertão…
 E a minh’alma, cansada ao peso atroz das mágoas,
Silente adormecer no colo da so'idão…


*Euclides da Cunha*

 Em “Euclides da Cunha: Poesia Reunida”, São Paulo, Editora UNESP, 1ª Edição, 2009.

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