“CEM ANOS DE PERDÃO
Quem nunca roubou não vai me entender.
E quem nunca roubou rosas, então é que jamais poderá me entender.
Eu, em pequena, roubava rosas.
[...]
No meio do meu silêncio e do silêncio da rosa,
havia o meu desejo de possuí-la como coisa só minha.
Eu queria poder pegar nela.
Queria cheirá-la até sentir a vista escura de tanta tonteira de perfume.
O que é que fazia eu com a rosa? Fazia isso: ela era minha.
[...]
O processo era sempre o mesmo:
Quem nunca roubou não vai me entender.
E quem nunca roubou rosas, então é que jamais poderá me entender.
Eu, em pequena, roubava rosas.
[...]
No meio do meu silêncio e do silêncio da rosa,
havia o meu desejo de possuí-la como coisa só minha.
Eu queria poder pegar nela.
Queria cheirá-la até sentir a vista escura de tanta tonteira de perfume.
O que é que fazia eu com a rosa? Fazia isso: ela era minha.
[...]
O processo era sempre o mesmo:
[...]
Sempre com o coração batendo e sempre com aquela glória
que ninguém me tirava.
[...]
Também roubava pitangas.
[...]
Nunca ninguém soube.
Não me arrependo: ladrão de rosas e de pitangas tem cem anos de perdão.
As pitangas, por exemplo,
são elas mesmas que pedem para ser colhidas,
em vez de amadurecer e morrer no galho, virgens.”
*Clarice Lispector*
Em "Felicidade Clandestina", Rio de Janeiro, Editora Rocco, 1971.
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