sexta-feira, 3 de julho de 2015

Mentiras

                                                 Ai quem me dera uma feliz mentira
                                               Que fosse uma verdade para mim!
                                              J. Dantas


Tu julgas que eu não sei que tu me mentes
Quando o teu doce olhar pousa no meu?
Pois julgas que eu não sei o que tu sentes?
Qual a imagem que alberga o peito meu?

Ai, se o sei meu amor! Em bem distingo
O bom sonho da feroz realidade...
Não palpita d’amor, um coração
Que anda vogando em ondas de saudade!

Embora mintas bem, não te acredito;
Perpassa nos teus olhos desleais
O gelo do teu peito de granito;

Mas finjo-me enganada, meu encanto,
Que um engano feliz vale bem mais
Que um desengano que nos custa tanto!


*Florbela Espanca*
Em “Florbela Espanca - Poesia Completa”, Lisboa, Bertrand Editora, 1ª Edição, 2009.

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