sexta-feira, 3 de julho de 2015

Interrogação

                                                A Guido Batelli

 Neste tormento inútil, neste empenho
 De tornar em silêncio o que em mim canta,
 Sobem-me roucos brados à garganta
 Num clamor de loucura que contenho.

 Ó alma de charneca sacrossanta,
 Irmã da alma rútila que eu tenho,
 Dize pra onde vou, donde é que venho
 Nesta dor que me exalta e me alevanta!

 Visões de mundos novos, de infinitos,
 Cadências de soluços e de gritos,
 Fogueira a esbrasear que me consome!

 Dize que mão é esta que me arrasta?
 Nódoa de sangue que palpita e alastra...
 Dize de que é que eu tenho sede e fome?!


*Florbela Espanca*
Em “Florbela Espanca - Poesia Completa”, Lisboa, Bertrand Editora, 1ª Edição, 2009.

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