terça-feira, 9 de julho de 2013

Compreensão

Bem sei que já não ouvirás mais, ah, nunca mais, as palavras
de uma infinita doçura que estão nascendo dentro de mim.
Se elas falam sem voz, é porque a noite me surpreendeu, de repente,
nesta encruzilhada que não tem nome.
É daqui que partem os que não voltam;
é daqui que partem os que já não têm raízes, mas ainda vivem.

Em vão, me calo, bem vês.
Em vão me calo, tudo são vozes:
o mar e a noite, o céu e o vento.
Tudo são vozes.

Vozes de fogo... que dizem elas?
Que dizem elas que a claridade
se espalha no ar?

Só agora é que nos entendemos;
só agora é que teu sorriso,
morta a esperança, me ilumina.

Fraternais, os teus braços se estendem através da noite
e é como se a aurora me tocasse.


*Emílio Moura*

Em “Poesias de Emílio Moura”, Belo Horizonte, Editora Art, 1ª Edição, 1991.

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