domingo, 15 de janeiro de 2017

Os Sinos

Nas tardes lentas e calmas
Os sinos tangem soturnos,
Como lamentos noturnos,
Sensibilizando as almas.

Derramam no ar notas graves
Cheias de melancolia,
Quando finaliza o dia,
Por entre a canção das aves.

Surja a aurora fresca e linda,
No calmo céu do oriente,
E melancòlicamente
Êles tangerão ainda.

Quando às vêzes acontece
Passar o esquife de alguém,
Solenes, como uma prece,
Os sinos tangem também.

Aos meus nervos femininos,
Guardo ainda essa lembrança,
Outrora, quando criança,
Causavam prazer os sinos

Hoje, ouvindo os sons tristonhos
Como o luar sobre as lousas,
Penso em funerárias cousas
E relembro mortos sonhos!

Penso que durmo o perene,
Tétrico sono final,
Sob a cúpula solene
De uma velha catedral.

Medonho rumor aos poucos
Vai da terra ao firmamento,
Produzido por um lento
Badalar de sinos roucos.

E esse rumor é tão forte
Que eu, morto, consigo ouvi-lo,
Pois não me deixa tranquilo
Dormir o sono da morte...


*Júlio Mário Salusse*
Em “Obra Poética de Júlio Salusse (Nevrose Azul - 1884, Sombras - 1901 e Fitas Coloridas)”, 
Anais da Biblioteca Nacional, Fundação Biblioteca Nacional, 
Rio de Janeiro, Vol. 113, 1993, págs. 149/188.

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