domingo, 15 de janeiro de 2017

Cisnes

A vida, manso lago azul algumas
Vezes, algumas vezes mar fremente,
Tem sido para nós constantemente
Um lago azul, sem ondas, sem espumas!

Sobre ele, quando, desfazendo as brumas
Matinaes, rompe um sol vermelho e quente,
Nós dois vagamos indolentemente
Como dois cisnes de alvacentas plumas!

Um dia um cisne morrerá, por certo.
Quando chegar esse momento incerto,
No lago, onde talvez a água se tisne,

Que o cisne vivo, cheio de saudade,
Nunca mais cante, nem sózinho nade,
Nem nade nunca ao lado de outro cisne...


*Júlio Mário Salusse*
Em “Obra Poética de Júlio Salusse (Nevrose Azul - 1884, Sombras - 1901 e Fitas Coloridas)”, 
Anais da Biblioteca Nacional, Fundação Biblioteca Nacional, 
Rio de Janeiro, Vol. 113, 1993, págs. 149/188.

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