domingo, 10 de abril de 2016

Pastoral

Por ser tão leve o teu passar
Na estrada, à tarde, quando vens
De pôr o gado que não tens,
A pastar...

Por ser tão brando o teu sorrir,
Tão cheio de feliz regresso
Do longe prado, onde apeteço
Contigo ir...

Por ser tão breve o teu querer
Alguém que perto de ti passe
E, porque a tarde cai, te abrace,
Sem nada te dizer...

Por ser tão calmo o teu sonhar
Que já é tempo de não ter
Esse rebanho de pascer,
Mas outro de amamentar...

É que eu me perco no caminho
Do grande sonho sem janelas,
De estar contigo no moinho,
Sem o moleiro nem as velas.


*Carlos Queirós*
Em “Desaparecido e Outros Poemas”, Lisboa, Livraria Bertrand, 2ª Edição, 1957.

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