segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Mistério d'amor

Um mistério que eu trago dentro em mim
Ajuda-me, minh’alma a descobrir…
É um mistério de sonho e de luar
Que ora me faz chorar, ora sorrir!

Vivemos tanto tempo tão amigos!
E sem que o teu olhar puro toldasse
A pureza do meu. E sem que um beijo
As nossas bocas rubras desfolhasse!

Mas um dia, uma tarde… houve um fulgor,
Um olhar que brilhou… e mansamente…
Ai, dize ó meu encanto, meu amor:

Porque foi que somente nessa tarde
Nos olhamos assim tão docemente
Num grande olhar d’amor e de saudade?!


*Florbela Espanca*
Em “SONETOS COMPLETOS - Florbela Espanca”, Coimbra, Livraria Gonçalves, 7ª Edição, 1952.

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