sábado, 15 de julho de 2017

Trajetória Poética do Ser

Passeio 15

De delicadezas me construo. Trabalho umas rendas
Uma casa de seda para uns olhos duros.
Pudesse livrar-me da maior espiral
Que me circunda e onde sem querer me reconstruo!
Livrar-me de todo olhar que quando espreita, sofre
O grande desconforto de ver além dos outros.
Tenho tido esse olhar. E uma treva de dor
Perpetuamente.
Do êxodo dos pássaros, do mais triste dos cães,
De uns rios pequenos morrendo sobre um leito exausto.

Livrar-me de mim mesma. E que para mim construam
Aquelas delicadezas, umas rendas, uma casa de seda
Para meus olhos duros.


*Hilda Hilst*
Em “Uma superfície de gelo ancorada no riso: antologia de Hilda Hilst”,
 São Paulo, Editora Globo, 1ª Edição, 2012.

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