sábado, 15 de julho de 2017

Amei-te sem saberes

No avesso das palavras
na contrária face
da minha solidão
eu te amei
e acariciei
o teu imperceptível crescer
como carne da lua
nos nocturnos lábios entreabertos

E amei-te sem saberes
amei-te sem o saber
amando de te procurar
amando de te inventar

No contorno do fogo
desenhei o teu rosto
e para te reconhecer
mudei de corpo
troquei de noites
juntei crepúsculo e alvorada

Para me acostumar
à tua intermitente ausência
ensinei às timbilas

a espera do silêncio.


*Mia Couto*
Em “Raiz de Orvalho e outros poemas”, Lisboa, Editorial Caminho, 1ª Edição, 1999.

Nenhum comentário: