sábado, 15 de julho de 2017

Beber toda a ternura

Não ter morada
habitar
como um beijo
entre os lábios
fingir-se ausente
e suspirar
(o meu corpo
não se reconhece na espera)
percorrer com um só gesto
o teu corpo
e beber toda a ternura
para refazer
o rosto em que desapareces
o abraço em que desobedeces.


*Mia Couto*
Em “Raiz de Orvalho e outros poemas”, Lisboa, Editorial Caminho, 1ª Edição, 1999.

Nenhum comentário: