domingo, 24 de janeiro de 2016

Ternura

Desvio dos teus ombros o lençol,
que é feito de ternura amarrotada,
da frescura que vem depois do sol,
quando depois do sol não vem mais nada…

Olho a roupa no chão: que tempestade!
Há restos de ternura pelo meio,
como vultos perdidos na cidade
onde uma tempestade sobreveio…

Começas a vestir-te, lentamente,
e é ternura também que vou vestindo,
para enfrentar lá fora aquela gente

que da nossa ternura anda sorrindo…
Mas ninguém sonha a pressa com que nós
a despimos assim que estamos sós!


*David Mourão-Ferreira*
Em “DAVID MOURÃO-FERREIRA - INFINITO PESSOAL OU A ARTE DE AMAR”, Lisboa, 
GUIMARÃES EDITORES, 2ª Edição, 1963.

Nenhum comentário: