domingo, 3 de janeiro de 2016

Ao Poente

Ficávamos sonhando horas inteiras,
com os olhos cheios de visões piedosas:
éramos duas virginais palmeiras,
abrindo ao céu as palmas silenciosas.
.
As nossas almas, brancas, forasteiras,
no éter sublime alavam-se radiosas,
ao redor de nós dois, quantas roseiras...
O áureo poente coroava-nos de rosas.
.
Era um arpejo de harpa todo o espaço;
mirava-a longamente, traço a traço,
no seu fulgor de arcanjo proibido.
.
Surgia a lua, além, toda de cera...
Ai como suave então me parecera
a voz do amor que eu nunca tinha ouvido.


*Alphonsus de Guimaraens*
Em “Poesia completa”, Rio de Janeiro, Editora Nova Aguilar, 1ª Edição, 2001.

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