“Por enquanto, devoro apenas
Por enquanto, devoro apenas,
com paciente ritmo,
estas folhagens do mundo.
Por enquanto, sou este corpo necessário
que se enruga à luz do dia, à leveza do ar.
Corpo não escolhido,
aceito, de paciente ritmo.
Deixai-me depois dormir meu tempo indispensável
enrolada nestes fios que humilde tece
um paciente ritmo,
deixai-me descansar nesta experiência de tela frágil
onde prolongo a aprendizagem
de cada instante na escola do paciente ritmo.
Estarei ouvindo os comandos
de infinitos professores sem voz.
Deixai-me elaborar as asas claras
de paciente ritmo,
para a alegria de não ter mais peso,
de desprender-me do obrigatório alimento,
de ter merecido a etérea liberdade.
Deixai-me ir, enfim, sobre ar e luz,
com a substância apenas das cores,
no ritmo paciente
que me vai desfazer em cinzas de seda,
num pequeno arco-íris de pó.
Mas tudo isto está sendo inventado agora,
por este corpo melancólico,
de paciente ritmo,
que resignado devora
(na verdade inapetente)
as folhagens do mundo.”
*Cecília Meireles*
Em “Estudante Empírico”, Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira, 1ª Edição, 2005.
Por enquanto, devoro apenas,
com paciente ritmo,
estas folhagens do mundo.
Por enquanto, sou este corpo necessário
que se enruga à luz do dia, à leveza do ar.
Corpo não escolhido,
aceito, de paciente ritmo.
Deixai-me depois dormir meu tempo indispensável
enrolada nestes fios que humilde tece
um paciente ritmo,
deixai-me descansar nesta experiência de tela frágil
onde prolongo a aprendizagem
de cada instante na escola do paciente ritmo.
Estarei ouvindo os comandos
de infinitos professores sem voz.
Deixai-me elaborar as asas claras
de paciente ritmo,
para a alegria de não ter mais peso,
de desprender-me do obrigatório alimento,
de ter merecido a etérea liberdade.
Deixai-me ir, enfim, sobre ar e luz,
com a substância apenas das cores,
no ritmo paciente
que me vai desfazer em cinzas de seda,
num pequeno arco-íris de pó.
Mas tudo isto está sendo inventado agora,
por este corpo melancólico,
de paciente ritmo,
que resignado devora
(na verdade inapetente)
as folhagens do mundo.”
*Cecília Meireles*
Em “Estudante Empírico”, Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira, 1ª Edição, 2005.
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