domingo, 20 de agosto de 2017

Idílio

Como eu preciso de campo,
de folhas, brisas, vertentes,
encosto-me a ti, que és árvore,
de onde vão caindo flores
sobre os meus olhos dormentes.

Encosto-me a ti, que és margem
de uma areia de silêncios
que acompanha pelo tempo
verdes rios transparentes;
tua sombra, nos meus braços,
tua frescura, em meus dentes.

Nasce a lua nos meus olhos,
passa pela minha vida...
- e, tudo que era, resvala
para calmos ocidentes.
Caminhos de ar vão levando
pura e nua essa que andava
com as roupas mais diferentes.

Olham pássaros, das nuvens,
entre a luz dos mundos firmes
e a das estrelas cadentes.
E o orvalho da sua música
vai recobrindo o meu rosto
com um tremor que eu conhecia
nos meus olhos já levados,
idos, perdidos, ausentes...

(Leve máscara de pérolas
na minha face não sentes?)


*Cecília Meireles*
Em “VIAGEM - VAGA MÚSICA”, Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira, 2ª Edição, 1982.

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